Universo da Escrita

Carta a uma Ex Amizade Querida Ex amizade, Devo confessar que o momento mais belo da nossa amizade foi aquele em que ela terminou. Havia chegado o momento em que me sentia a afogar. Prisioneiro, mantido cativo há séculos nas tuas redes de ilusória liberdade. Foi uma libertação dolorosa, não vou negar, mas uma libertação necessária, que me deixou respirar, voar e olhar em diferentes sentidos, sem ser julgado nem pressionado… Não quero que esta carta parta desde a dor, mesmo apesar de ter vivido momentos dolorosos contigo. Agora prefiro ver tudo isso como eventos do passado, com os quais aprendi algo. Nesse sentido, gostaria de partilhar contigo o que eu aprendi. Aprendi a não confiar cegamente em olhos brilhantes ou sorrisos meigos. Aprendi algo que ainda não havia aprendido, o que parece absurdo, mas é verdade! Aprendi a não ter pena das pessoas. Acho que esta foi a maior lição de vida que me ensinaste. Obrigado. Devemos encarar o outro desde a humildade, compreender

Percepção Racional Aquela sensação apossou-se de mim, pela milésima vez. Mas nesta ocasião, pareceu-me bem mais clara, bem mais nítida, como se a pudesse abraçar. Sensação da minha inutilidade física. Que pode apresentar-se a qualquer momento, a qualquer hora, sem sequer dizer “olá”… Mas desta, não me desesperei… Não gritei interiormente. Simplesmente compreendi a realidade, serenamente, e com calma. Apercebi-me da minha inutilidade e esta, não deve, nem pode ser partilhada com outro alguém. Porquê submeter alguma pessoa a tal suplício? Não seria justo. Além do mais, a minha mente está cansada de explicações. Coisas que na realidade são banais, tendo em conta o objetivo final, do interesse propriamente dito. E como estou cansado de explicações, suposições e sorrisos hipócritas, prefiro desfrutar da vida, desde uma outra perspetiva. A da realidade! Compreendi que os sonhos são para a noite. Que a razão é a arma mais importante do ser humano. Sobretudo no que diz respeito à pr

Amizade Aparente Rosto amável, amigavelmente afável, Sorriso meigo, olhar confidente Personalidade serviçal, atraente. Modelo a seguir, sem questionar. Perfeccionismo perfeito de invejar Senhora que tudo parece ter Alma pura de se compadecer Quem quer existir na perfeição Transforma-se naturalmente em ilusão Quem da pena alheia quer viver Pouco de real na vida tem a fazer Quem, de amores passados faz a sua vida Sua alma apodrecerá na hipocrisia Quem utiliza a amizade como proveito O outro apercebe apenas falso conceito Um dia pensei ter possuído a tua amizade Um dia eu pensei amar-te de verdade Era pura ilusão do teu embuste E eu vivia bem contigo Naquele sonho aparente perfeito Hipnotizado pelo teu olhar, pelo teu sorriso Enganado pelos teus desamores Centro amorfo das tuas dores A minha ingenuidade foi teu amparo Não me arrependo de um único abraço Lamento apenas ter-te mostrado o meu coração Lamento apenas ter-te dado

Os dois Juntos Sozinhos Somos duas almas parecidas Somos duas pessoas muitas vezes incompreendidas Amamos a vida, amamos amar Partilhamos ideias e sonhos, Sozinhos, contemplando a beleza do mar Sozinhos, sem ninguém para nos incomodar Partilhamos coisas boas e coisas más. Sentimentos percorridos numa estrada dura, De feridas, com difícil cura. Que seria de nós, sem a esperança no encontro… De novos e inesperados corações! Somos duas almas quase iguais O sexo nos distingue, nada mais! Somos, infortunadamente os dois sozinhos Apesar de percorrer diferentes caminhos Abraçamos a solidão, Porque assim nos obriga a razão. Não sofremos sem o doce amor Como outros… No altar não o queremos pôr. Porque somos assim, rejeitamos a vã ilusão! Caminhamos juntos pela calçada, de mão dada Abraçando, sem hesitar, todos os Nadas. Somos os dois, juntos, sozinhos… Pelo vínculo da amizade unidos… Amor para nós é conto de fadas!

Amores Noturnos Sombras indistintas vagueiam na escuridão Só se deixam ver por essa ocasião Entre arbustos tenebrosos, Lugares desaconselhados a medrosos. Caminham sozinhas com a sua solidão Sozinhas, sós, só naquele momento Só naquela hora, só naquela ocasião Disfarçando não viver em sofrimento. Procuram sonhos parecidos com a lua, Beleza única e rara, na negra noite. Sempre bela… mesmo quando parecida com uma foice. Amante única de sombras solitárias, Que buscam prazeres camuflados… Mas como a lua, esses sonhos não são achados São apenas imaginados Buscam a vida numa noite Como se na noite houvesse vida Na noite apaziguam a alma Na noite ouvem o silêncio sereno Não há ruido, não há barulho. Na noite não se sofre, nem se ama, A noite é sua confidente, como sua dona, como sua ama! Pobres sombras… com seus sonhos Caminhantes errantes, incessantes Vivendo no mundo da ilusão Que as faz felizes, um dia sim e outro não S

Lamento Num cantinho escuro, sem ninguém ver Só eu, com o meu ser Enxugo lágrimas sem querer Não é perrice, não é pranto: Mescla de ódio e amargura Pelo mundo e sua desventura Realidade inimaginável, acima do irreal De guerras, fome e injustiça Homens e crianças louvam um deus Que não traz paz, nem alegria, nem alívio… Deus inexistente, inerte, inoperante… Que alimenta as esperanças de espíritos destruídos, A todos aqueles que dizem ser seus filhos. Ruas tingidas de vermelho, inundadas de ódio, Ecos de lamentos, absorvidos por paredes destruídas, Despedidas amargas e repentinas Em dor e choro envolvidas… E de fundo… o ruído funesto, de projéteis suicidas Meu lamento também é revolto Pelo sentimento de ambição desmedido Pelo oportunismo obsceno Pela utilização de um deus de criação Usado como escudo de morte e de subjugação.